quinta-feira, 23 de abril de 2009

100% Jovem

-Tu não tens cura! Até tenho pena das miúdas. Eu cá vou continuar a dar conversa à outra lá da escola. -riu-se o Ricardo.
-A da arrecadação? A Verónica. -perguntou o Miguel. -Essa miúda é uma maluca... Tens que ter cuidado porque ela anda metida numas cenas esquisitas. Mas é tão boa!
-Eu sei, eu sei! Tenho bom gosto. E o bom é que ela não se importa se eu curtir com outras! -gabou-se o Ricardo.
-Ya, eu sei, eu também já andei com essa, não foi? -disse o Miguel desinteressado.
Era típico do Miguel, no início andava todo interessado e assim que conseguia o que queria de alguma rapariga deixava-a e nunca mais se lembrava do nome dela sequer. E o Ricardo ia pelo mesmo caminho, como grande parte dos rapazes da idade deles e que andam no décimo segundo ano...
Mas nem todos na família Matias eram assim... O Miguel era apenas um dos membros dessa família e tinha mais dois irmãos, um já bem mais velho que ele, o Tiago, que era casado com a Inês e outro de vinte anos que era o David, o já tão falado namorado da Marina, a irmã da mulher do Tiago.
Namoravam há quase um ano e isso fazia a Marina sentir-se muito importante, afinal de contas ela tinha aquilo que qualquer rapariga desejava: um namorado giro, que fazia tudo o que ela queria e que ainda por cima tinha carro, melhor não podia ser... Pena que ele estivesse quase sempre em Lisboa porque estava no primeiro ano da universidade... Mas isso até era bom, afinal assim tinha motivo para ir ter com ele todos os fins-de-semana e para fazer umas comprinhas...
Nesse dia o David estava bastante nervoso. Era o seu primeiro dia de trabalho como professor de equitação na Coudelaria de Alter do Chão, era uma sorte deixarem-no dar aulas lá, até porque não tinha assim tanta experiência como isso. Quando o tinham convidado para esse trabalho nem tinha pensado duas vezes, trancou a matrícula na universidade, onde estava a tirar um curso de Economia e Gestão, e tinha voltado a correr para o Alentejo, nem sequer tinha dito a ninguém quando voltava, tinha ido logo para a Coudelaria.
Desconfiava que havia dedo do seu pai nisso, o único que sempre o tinha encorajado a seguir os seus sonhos, mas o que importava era que ia estar perto da sua grande paixão, para além da Marina, claro: os cavalos. Pena que ela não gostasse de animais... Era por isso que ia deixar passar um dia ou dois até lhe contar a ela e à família que tinha voltado para Portalegre, tinha que ter a certeza da sua decisão e a última coisa que precisava era que lhe dissessem que estava errado.
Entretanto no bar...
-Que barulho foi este? -perguntou a Filipa olhando em volta.
-Oh, não! Eu não acredito! -exclamou a Sara fechando os olhos e cerrando os dentes furiosa. -CARLOS EDUARDO!!!...
De facto, tinha sido o irmão gémeo da Sara quem tinha feito aquela confusão toda. Ele e o Joãozito, o seu melhor amigo e com quem andava sempre metido em confusões, tinham entrado no bar a correr e ido contra uma mesa. Resultado? A mesa caiu e eles também!
-O teu irmão é insuportável! -exclamou a Vânia torcendo o nariz.
-Eu que o diga! Moro na mesma casa que ele, não é? -resmungou a Sara dando um gole no seu sumo. -Será que ele nunca vai crescer?
Pelos vistos não! A queda só tinha feito com que os dois ficassem com mais vontade de rir, nem mesmo o ar zangado do André, quando os foi ajudar a sair debaixo da mesa, os fez ficar sérios, muito pelo contrário, só aumentou o ataque de riso de ambos que acabaram por se irem sentar na mesa da Cátia e do Sérgio.
-Aqueles dois... -irritou-se a Sara levantando-se. -Eu saí de lá para deixar a Cátia e o Sérgio sozinhos e eles agora vão e metem-se no meio! Deixa estar que eu já lhes digo...
-Não sei porque é que ela se preocupa tanto, a Cátia e o Sérgio ainda acabavam por se comerem um ao outro, já ali estavam há montes de tempo sem se largarem! -disse a Vânia revirando os olhos para as outras. -Até enjoam...
Mas isso a Sara já não ouviu porque tinha ido ter com o irmão.
-Mas o que é que se passou? -perguntou a Cátia espantada.
-Viste? Viste? -perguntou o Carlos Eduardo sem fôlego.
-Que cena! -exclamou o Joãozito rindo às gargalhadas. -A velha fartou-se de correr...
-Até parecia que tinha asas nos pés! -riu-se o Carlos Eduardo. -E quando o saco das compras se rompeu?
-E quando a mãe ficou a saber de tudo e tu ficaste de castigo por um mês? -perguntou a Sara fazendo o irmão assustar-se. -Estou só adivinhar o que te vai acontecer quando disser tudo à mãe.
-Tu? Ó Sara, maninha querida... Tu não contavas nada à mãe, pois não? -suplicou o Carlos Eduardo. -Por favor!
-Depende... Não conto nada se fizeres as minhas tarefas lá em casa por um mês! -propôs a Sara. -Aceitas?
-Mas? Eu... Ok! Que remédio... Se tem mesmo que ser. Mas não lavo a loiça!
-Eh, eh... O menino da maninha! Tens medo dela ou quê? -gozou o Joãozito.
-E tu também! Metam-se em mais alguma e os teus pais também ficam a saber de tudo, João. -ameaçou a Sara. -Pirralhos!
-Vê lá... Não somos nós que temos o quarto cheio de peluches! -gozou o Joãozito.
-Pois não. Se o teu for como o do Carlos Eduardo deve parecer uma lixeira! -gozou a Cátia. -Não te esqueças que eu já fui tua namorada, Carlos! Conheço-te muito bem...
-Olha que o Sérgio ainda fica com ciúmes... -avisou-a o Carlos Eduardo.
-Dah! Vocês tinham cinco anos e terminaram porque lhe arrancaste a cabeça de uma Barbie, acho difícil ter ciúmes disso... -brincou o Sérgio dando um beijo à Cátia. -Além disso, eu confio plenamente na minha namorada.
-Acho bem! -respondeu a Cátia.

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